Os sapatos estrangeiros do ministro da Economia são um dos temas da semana. Com efeito, o ministro Pires de Lima, que visitava na terça-feira algumas das 88 empresas portuguesas presentes na maior feira mundial de calçado, em Milão, confessou que, naquele momento, calçava sapatos de uma marca estrangeira. Bastou isso para causar uma revoada de críticas e comentários.
Pela minha parte, começarei por dizer o seguinte: quem, neste momento, puder dizer que nada veste ou calça que seja fabricado no estrangeiro que atire a primeira pedra. Eu não atirarei, de certeza!
Quanto ao ministro, de facto foi um lapso não se ter lembrado de, ao menos quando visitava – e elogiava! – as empresas portuguesas de calçado, calçar sapatos feitos em Portugal. Até podiam ser de uma marca estrangeira, mas deveriam ser feitos em Portugal, pelo menos naquele momento.
Esta questão pouco mais é que uma guerra de alecrim e manjerona, daquelas em que nós, portugueses, tanto gostamos de nos envolver.
Por isso, queria também saudar o ministro por ter tido a coragem de dizer a verdade quando interrogado pelos jornalistas. Quando lhe perguntaram se os sapatos que calçava eram de fabrico nacional, o que o impedia de mentir? Ainda que a marca dos sapatos estivesse muito visível, será que os meus colegas jornalistas iriam saber se aquela marca, apesar de estrangeira, não era fabricada em Portugal?
Isto só foi notícia porque, como se costuma dizer, à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta. Ou seja, o ministro da Economia, que tutela um setor fundamental para a indústria e as exportações nacionais, não pode apenas elogiar o setor português do calçado.
A Pires de Lima não basta dizer que se trata de «um excelente exemplo para muitos outros setores tradicionais portugueses, que através do reposicionamento do seu negócio podem dar cartas não só na Europa mas um pouco por todo o mundo».
São palavras bonitas, verdadeiras. Mas ele, como responsável máximo pelo Ministério da Economia tem de parecer…e o parecer passa por defender ativamente o setor, nomeadamente calçando sapatos portugueses, sempre!
É que o exemplo tem de vir de cima. O que adianta o ministro andar por essa Europa a dizer e a mostrar que os produtos portugueses são bons e recomendam-se se depois ele, que é quem dá a cara, não junta as palavras aos atos e não os consome?
Por isso, senhor ministro, para a próxima, não se deixe apanhar descalço. Ou mal calçado.
Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e que pode ser ouvida em podcast aqui.