Nestes últimos dias, soube de três pessoas minhas conhecidas, todas na casa dos 30 anos, que emigraram, uma para a Escócia, outra para a Suíça, outra para a Bélgica.
Estes três homens trabalhavam no setor da construção civil e dos jardins, no Algarve, e durante alguns anos até se deram bem e prosperaram, mas de há três anos para cá as coisas andavam muito difíceis, com menos trabalho, clientes a deixar de recorrer aos seus serviços ou, simplesmente, a não lhos pagar. Por isso, logo que tiveram oportunidade, saíram do país.
Esta semana soube-se que, segundo os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a taxa de desemprego em Portugal manteve-se, em julho, no 15,7 por cento, a segunda maior dos países que integram esta organização.
Pior que nós só a Espanha, com 25,1 por cento, e depois de nós surge a Irlanda, com 14,9 por cento de desemprego.
15,7 por cento é o número referente a Portugal no seu todo, mas sabe-se que, no Algarve, a região do país mais duramente afetada pelo desemprego e pela falência de empresas, a taxa já ultrapassa os 20 por cento. Se não estiver mesmo nos 25 por cento.
Ou seja, na nossa região, um quarto da população – ou bem perto disso – não tem emprego. E quando chegarmos ao fim de Setembro vai ver-se como essa taxa ainda irá piorar, com muitas mais empresas a fechar, temporária ou definitivamente, por causa da crise que não nos dá tréguas.
As estatísticas do desemprego não mostram a realidade de quem emigra, de quem sai do país em busca de uma vida pelo menos um pouco melhor. Quem emigra fá-lo na maior parte das vezes por sua conta e risco, sem que haja qualquer entidade oficial envolvida e por isso escapa às teias das estatísticas. Mas toda a gente conhece duas ou três pessoas que, ou já emigraram, ou estão prestes a fazê-lo.
Partem sobretudo os mais jovens, muitos deles com licenciaturas, mestrados, doutoramentos que em Portugal de nada lhes valem, ou com especializações e experiência que vão tentar fazer render noutros países.
Eu, que até já fui emigrante, mas quando era criança, também partiria se surgisse uma oportunidade aliciante. Por mais que goste deste nosso país, às vezes, de tanto remar contra a maré, uma pessoa começa a cansar-se. E remar por remar, antes fazê-lo num país em que haja a possibilidade de se chegar a algum lado…
Nota: Este é o texto da minha crónica de quinta-feira passada na rádio RUA FM, no âmbito da rubrica «Tenho Dito», que pode ser ouvida de viva voz aqui