Parece que a TAP vai ser vendida por 20 milhões de euros. Curioso, o Hulk foi vendido por três vezes mais. Percebemos assim que Pinto da Costa entende mais do assunto. Ou então anda alguém de má fé a destruir o património público, despachando ao desbarato empresas estratégicas para o país. Será possível?
Cheira mal a história das privatizações. Cheira perfidamente, até. E se há muito tempo que se suspeitava que a coisa não ia correr bem, só agora ficaram claros os propósitos de quem anda a tratar dos diferentes dossiers.
Do leque de empresas a privatizar, TAP e RTP serão talvez as mais emblemáticas. Curiosamente, sobre uma e outra, a última semana foi pródiga em novidades, nenhuma muito animadora.
A RTP, já se sabe, está a ser alvo de um processo de saneamento que começou com Nuno Santos e prosseguirá a breve trecho com todos aqueles que se atrevam a levantar a voz perante o golpe palaciano que está em curso: o serviço público de rádio e televisão vai ser a breve trecho entregue a privados.
Parece – e parece porque, como em tudo o que envolva este executivo, nada é claro – que caberá à Cofina e a capitais angolanos (e na expressão “capitais angolanos” cabe tudo, tudo mesmo) a missão de servir os propósitos escondidos de um governo sobre o qual a única garantia que temos diz respeito à sua incapacidade de lidar com o problema que tem em mãos e que se chama Portugal.
Percebem-se assim as repetidas manchetes do Correio da Manhã sobre a RTP, tanto como ficam claros os recentes editoriais do Jornal de Angola.
Quanto à TAP, se atinjo a pertinência da privatização (a TAP precisa de uma injeção de capital para poder crescer), já não entendo a urgência da mesma, sabendo-se que, nos atuais termos, ela será mal feita e pouco rentável para o acionista Estado.
O colombiano, o brasileiro, aliás, o polaco que se prepara para passar o cheque consegue fazer o negócio da sua vida. Compra uma companhia aérea cotada como uma das melhores do mundo, líder no mercado da América Latina, com uma posição importante no mercado africano e um valor intangível que ultrapassa qualquer cálculo económico, fazendo-o por um preço que não é só de saldo, mas quase de liquidação total.
Estamos pior do que pensávamos. Eticamente, pelo menos. A RTP e a TAP são duas marcas indelevelmente associadas à noção de portugalidade. Abdicar delas com esta leviandade só pode ser sinal de que o precipício está definitivamente perto.
Por favor, alguém que nos salve!
Autor: Nuno Andrade Ferreira, jornalista