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Sul Informação

Virar as costas ao ministro

O ministro da Administração Interna esteve na quarta-feira no Algarve para uma reunião em Albufeira com responsáveis regionais e locais do turismo e dos restaurantes. A reunião foi promovida pelas associações de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, a AHETA, e de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, a AHRESP, e foi anunciada como um debate sobre o tema «Turismo Seguro». Um debate, repare-se!

Até porque não houve nenhuma indicação prévia de que assim não seria, presumia-se que o debate seria aberto a todos, nomeadamente aos jornalistas.

Mas não foi. O senhor ministro Miguel Macedo resolveu que, afinal, queria que o tal debate fosse feito à porta fechada, sem a presença dos chatos dos jornalistas, que podiam ouvir e depois divulgar umas verdades que ao senhor ministro não interessavam…

Por isso, decidiu Sua Excelência que a reunião decorresse à porta fechada. E assim foi.

Também se esqueceu o senhor ministro de avisar que, no fim da reunião, não lhe ia apetecer falar com os jornalistas, que aguentaram ali as três horas, do lado de fora da porta, pensando que no fim poderiam ouvir – e transmitir ao público, a todos nós – o que teria Miguel Macedo a dizer sobre o tema do turismo e da segurança – ou da insegurança.

No fim, depois de ter feito os jornalistas esperarem três horas pela migalhinha de umas declarações finais, o ministro resolveu que não ia falar. Não queria abrir a boca e pronto!

O mais caricato é que, ao que parece, depois de ter comunicado, através da assessora de imprensa, que afinal não falava, o ministro até pensou melhor no assunto, talvez aconselhado por alguém mais ponderado que ele, e ainda comunicou que afinal já falava.

Só que os jornalistas viraram-lhe as costas e foram-se embora! E fizeram muito bem!

O que o ministro Miguel Macedo se esqueceu é que, ao recusar-se a falar aos jornalistas, está, de facto, a recusar-se a falar ao público, ao povo, às pessoas, aos cidadãos, aos eleitores, a todos nós! Porque se os jornalistas – dos jornais, das rádios, das televisões – não derem conta do que se passou naquela reunião à porta fechada, nem que seja apenas através das declarações finais de um ministro, quem sai prejudicado é o público, que precisa de saber o que está a ser feito para melhorar a segurança no Algarve.

Ao recusar-se a falar aos jornalistas, o ministro está a negar a todos nós, cidadãos, a informação a que temos direito. E cada um de nós, como cidadão, deveria indignar-se contra este tipo de atitudes.

Os jornalistas são chatos, às vezes fazem perguntas inconvenientes, têm o hábito de questionar as verdades que alguns gostariam de ver como absolutas, mas o seu trabalho é fundamental para a defesa da qualidade mínima da democracia e para a defesa do direito que qualquer um de nós tem, enquanto cidadão, a ser informado.

Disseram os jornais, nos dias anteriores a esta visita do ministro Miguel Macedo, que ele viria anunciar o aumento de efetivos das forças policiais no Algarve.

Se o fez, não sabemos, porque, no final, o ministro fechou-se em copas e não falou com os jornalistas.

No meio de tudo isto, só tenho que felicitar os meus colegas jornalistas por terem decidido virar as costas ao ministro quando ele, vendo que tinha metido a pata na poça, tentou voltar atrás. É que já vai sendo tempo de os governantes deste país deixarem de considerar-se reizinhos intocáveis, que podem tratar os outros, nomeadamente os jornalistas, com desprezo e falta de respeito.

Parabéns colegas! Assim mesmo é que se faz! Pode ser que, na próxima vez, o senhor ministro pondere melhor as suas atitudes. A bem da Democracia!

 

Nota: Este é o texto da minha crónica de quinta-feira na rádio RUA FM, no âmbito da rubrica «Tenho Dito», que pode ser ouvida de viva voz aqui

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