Eduardo Almeida foi eleito presidente da JSD Algarve no mais recente congresso desta estrutura partidária, que decorreu no final de julho, em Loulé.
O até há pouco tempo líder da JSD/Faro e atual dirigente da Associação Académica da Universidade do Algarve, da qual também já foi presidente, deu ao Sul Informação a primeira grande entrevista, após a sua eleição.
O líder da juventude social-democrata algarvia garantiu que irá contestar as medidas do Governo quando com elas não concordar, embora avise que não o fará na praça pública.
O desemprego entre os jovens, bem como a educação e o combate à interioridade são algumas das áreas de intervenção prioritárias eleitas pela nova direção a JSD/Algarve.
Sul Informação – Assumem a liderança numa altura de crise. Que propostas têm para uma região que está a ser fortemente afetada pela crise como o Algarve?
Eduardo Almeida – Em primeiro lugar, o facto de sermos Governo atualmente não impedirá a JSD de criticar ou aconselhar o Governo. E isso será uma das nossas grandes bandeiras. A JSD, ao longo da sua vida, e Passos Coelho sabe bem disso porque, em diversos momentos, também já foi contra um Governo PSD [na altura em que Passos Coelho era líder nacional da Juventude Social-Democrata], sempre teve a sua irreverência e nós queremos continuar a tê-la. E, ao contrário de outras estruturas políticas, nós não somos cordeirinhos.
Ou seja, se não concordarmos de certas medidas, vamos contestá-las, não na rua, mas em sede própria. A própria JSD a nível nacional tem-no feito. Um exemplo é o da disciplina de Participação Cívica, com que o Governo queria terminar. Nesse sentido, vamos fazer o nosso trabalho, sempre em colaboração com o Governo, mas com a nossa própria autonomia.
Tendo isto em conta, no âmbito do emprego, que é um dos maiores flagelos da nossa geração na região – os dados de 2011 do Eurostat apontam para 37 por cento de jovens desempregados no Algarve – a JSD propõe a criação de um Plano Estratégico de de combate ao desemprego jovem no Algarve, para além do Programa Impulso Jovem, que é um programa positivo, pois vem criar estímulo à contratação de jovens quadros. A nossa região tem uma característica única, que é a sazonalidade.. Temos algumas ideias quanto a este Plano Estratégico, vamos agora trabalhá-las melhor a nível interno, para as apresentar ao PSD. Mas, na nossa opinião, é necessário envolver o Governo, as autarquias e o setor económico no desenvolvimento deste plano.
Suli – Falou em irreverência e uma das questões que tem causado muita polémica é a introdução de portagens na Via do Infante. Qual a posição da JSD quanto a esta medida?
E.A. – A JSD Algarve tem-se manifestado contra a introdução de portagens. Aliás, nós em 2010 enviámos como prenda de natal ao engenheiro Sócrates um dispositivo de Via Verde. Não iremos fazer o mesmo agora, mas o que decidimos em congresso foi que iríamos avaliar o verão, que irá trazer quebras e a partir daí iremos tomar a nossa posição.
Porque agora é que se poderá sentir verdadeiramente o impacto e iremos alertar o Governo para a necessidade do Algarve não ter portagens. Sentimos que a EN 125 não é uma verdadeira alternativa à A22.
Suli – Acha que os principais partidos têm de mudar a forma de comunicar? Há um grande desencanto da população em relação à política?
E.A. – Há. Quando fazemos política, temos de envolver as pessoas. Eu defendo isto! Nós só conseguimos construir uma sociedade participativa se envolvermos as pessoas na discussão de ideias e de projetos para a sociedade. Este Governo é muito criticado, mas tem-no feito. A revisão curricular foi posta a discussão, bem como a do Livro Verde [da Reforma da Administração Local].
Suli – Por falar por Livro Verde, qual a vossa posição em relação à potencial extinção de freguesias e, já agora, à regionalização?
E.A. – Quanto à regionalização, não tomámos qualquer posição na nossa moção. Em relação às freguesias, acho que não deve haver extinção de freguesias na nossa região. Defendo que não haja, mas haverá. Mas há concelhos no Norte do país que têm tantas freguesias como o Algarve. Acho que não passa apenas por aí, há muitos institutos públicos, muita coisa por onde cortar.
Suli – Quais são as principais propostas da vossa moção?
E.A. – A nossa moção tem oito áreas temáticas: o emprego, o empreendedorismo, a educação, os transportes, o ambiente, desenvolvimento sustentável e interioridade, saúde e bem-estar, o mar e as autárquicas 2013. Temos uma nona linha, mais voltada para o interior, que é a da formação dos nossos militantes e preparação de futuros quadros políticos.
O interior do Algarve precisa de políticas de incentivo à fixação de jovens
Suli – A vossa moção foca a interioridade, um assunto que está agora na ordem do dia depois dos incêndios que assolaram a Serra do Caldeirão. Isto pode ser uma oportunidade para incentivar os jovens a fixar-se no interior?
E.A. – Essa é uma das medidas que nós propomos, que se criem incentivos não só ao desenvolvimento de projetos no interior, seja no setor agrícola, nas energias renováveis ou na parte das florestas, mas também na área da habitação.
Julgo que é necessário olhar cada vez mais para esta questão [do arrendamento jovem], a banca, nos últimos anos, tem vindo a asfixiar as famílias. Mas temos olhado pouco para o arrendamento jovem, algo que temos de começar a fazer e criar benefícios para que os jovens se fixem no interior da região. Acho que esta é uma forma de combater a assimetria que hoje existe entre o litoral e o interior da região.
Suli – Outra das vossas linhas de ação prioritárias é a educação. O que propõem?
E.A. – Neste momento, consideramos que o que é necessário não são mais escolas, mas sim uma aposta no ensino profissional. Hoje em dia, há muitos estudantes que não têm condições para vir para o Ensino Superior e, havendo uma preocupação da nossa parte em relação ao abandono escolar, é necessário cativar os jovens para estudar. Os cursos profissionais preparam-nos para ter uma profissão e vamos defender a criação de cursos profissionais cuja taxa de empregabilidade no Algarve seja de sucesso.
Para além disso, é necessário olhar para o Ensino Superior como uma área fulcral para o desenvolvimento económico, social e cultural da nossa região. E aí, defendemos a reestruturação da rede de Ensino Superior. Achamos que existe demasiada oferta e que há que a reavaliar e à própria empregabilidade que existe. Não devemos continuar a oferecer um curso a 50 ou 60 estudantes por ano, quando este não tem empregabilidade. Mais vale conseguir ter rede mais curta, que consiga angariar mais verbas para a ação social. Também iremos defender um reforço das verbas para ação social.
Defendemos, por exemplo, que haja um complemento de habitação e deslocamento para os alunos cujo curso contemple um estágio curricular. Ou seja, um prolongamento da Bolsa de Ação Social para os ajudar neste período pós-curso. Mas também defendemos que um aluno que peça uma bolsa e recuse o alojamento universitário, deve ser penalizado.
Defendemos ainda a adaptação dos cursos ministrados na região à realidade do Algarve. As apostas devem ser nos pontos fortes da região, como o Mar, o Turismo e eventualmente a agricultura e as energias renováveis. Também continuaremos a lutar pela revisão do estatuto dos dirigentes associativos para que haja responsabilização dos dirigentes.
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