Lia Viegas, poeta e advogada farense conhecida pela sua luta feminista, morreu, ontem, terça-feira, no Hospital de Faro, aos 85 anos.
Lia Viegas defendeu, em tribunal, a jornalista Maria Antónia Palla, em 1979, processada por ter dedicado um episódio do programa televisivo «Nome-Mulher» ao aborto, onde defendeu a legalização desta prática.
O jornal Público relembra que, na altura, Maria Antónia Palla respondeu «à acusação de ofensas à moral pública e incitamento ao crime».
O mesmo diário português recorda as declarações de Manuela Tavares, que a entrevistou para o livro sobre o movimento feminista em Portugal «Feminismos: Percursos e Desafios»: «foi uma mulher extraordinária na defesa dos direitos das mulheres, tendo dado apoio jurídico em muitos casos de forma gratuita». Nos anos 70 e 80, Lia Viegas deu apoio jurídico gratuito a centenas de mulheres.
Maria Antónia Palla recorda, por sua vez, Lia Viegas, como «uma mulher extremamente generosa», diz o Público, ao qual a antiga jornalista conta o episódio da sua defesa, em tribunal, que esteve a cargo da jurista farense.
«O advogado que me assistia desistiu na véspera da primeira audiência. Para mim, foi um choque. Era domingo e eu não ia ter ninguém para me defender no dia seguinte. O Wilton Fonseca, que na altura era meu diretor na agência noticiosa ANOP, deu-me um conselho muito útil. Disse-me que só uma mulher me iria defender num caso como aquele».
«A jornalista, que já conhecia Lia Viegas e o seu empenho em causas dos direitos das mulheres, ligou-lhe e perguntou-lhe se estaria disposta a defendê-la», conta este jornal.
«A Lia, que tinha acabado de chegar do Algarve, disse-me logo que sim, mas avisou-me: amanhã vai estar doente porque eu vou ter que estudar o processo», acrescenta. E a verdade é que o julgamento foi adiado e Maria Antónia Palla foi absolvida.
«Considerei que foi um gesto de grande generosidade e solidariedade da parte dela», diz Palla, citada pelo Público.
Lia Viegas licenciou-se em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Exerceu advocacia em Macau, Angola e Lisboa, tendo sido uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM). Pertenceu ainda à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR).
Além de jurista e de ativista pelos direitos das mulheres, desenvolveu também atividade literária, tendo colaborado em jornais e revistas, como o suplemento «Artes e Letras» do Diário de Lisboa. Em 1975, publicou uma monografia sobre «A Constituição e a Condição da Mulher».
Poemas de Lia Viegas foram incluídos na Antologia do Prémio Almeida Garrett do Ateneu Comercial do Porto, de 1954. Publicou, ainda, três livros de poesia: Náufragos na Ilha, em 1971, A Pulso o Horizonte, em 1985, e Árvore de Fogo, em 2001.