Miguel Poiares Maduro considera que o problema de Portugal nunca foi gastar conseguir todos os fundos europeus, mas «gastá-los bem». Aludindo às recorrentes críticas do secretário-geral do PS, Poiares Maduro considerou, em entrevista ao Sul Informação e à RUA FM, que a discussão sobre como gastar bem os fundos «devia ser a discussão que devíamos ter e eu estou disposto a tê-la».
Ainda hoje, o líder dos socialistas criticou o ministro do Desenvolvimento Regional, aconselhando-o a «sair mais do gabinete» para conhecer a realidade do país. Palavras ditas por António Costa curiosamente durante uma jornada de dois dias de Poiares Maduro no Algarve e que hoje até começou com a visita a duas empresas apoiadas por fundos europeus, em Faro e Quarteira.
Esta tarde, falando aos jornalistas à margem da apresentação do novo quadro comunitário de apoio, denominado Portugal 2020, realizada no Teatro das Figuras, em Faro, Poiares Maduro disse que António Costa «de cada vez que fala de fundos europeus, afunda-se um pouco mais».
O ministro do Desenvolvimento Regional, responsável pelos 26 mil milhões de euros do novo quadro comunitário de apoio, já tinha acusado o presidente do PS António Costa de «incompetência e má fé», quando ele disse que Portugal não estava a utilizar bem os fundos comunitários, e continuaria a não o fazer.
Na sua entrevista ao Sul Informação e à RUA FM, Miguel Poiares Maduro explicou que Costa «fez uma afirmação falsa, relativamente à taxa de execução dos fundos comunitários, já que estamos sempre em primeiro ou em segundo lugar, entre 28 estados-membros. Como é que quem está em primeiro, pode estar atrasado na execução? Parece-me que, por definição, não pode acontecer».
António Costa «fez essa afirmação uma vez, e eu, da primeira vez, respondi que provavelmente estava equivocado. Infelizmente insistiu, e eu tive de responder de acordo com essa insistência num erro. Aliás, devo dizer que ainda na passada semana [o secretário-geral do PS] cometeu um erro ao dizer que os concursos ainda não tinham aberto, que só iam abrir em março, quando já houve concursos que abriram e fecharam e, ironicamente, num deles a Câmara de Lisboa até é candidata».
O ministro garantiu que o Governo sempre mostrou «toda a disponibilidade para ter os contributos do PS na programação dos fundos comunitários, para garantir que os gastamos melhor».
«Com a anterior liderança do PS – como sabem, esta foi uma questão consensual durante muito tempo – foi possível envolvê-los na programação do Portugal 2020 e beneficiar das suas sugestões e eu gostaria que continuasse a ser assim», acrescentou.
Mas a postura do anterior líder António José Seguro, de consenso em relação a questões como os fundos europeus, não está a ser seguida pela nova liderança do Partido Socialista, na opinião de Poiares Maduro.
«Acho que, no geral, na atitude que adotaram em relação ao Governo, há muito pouca disponibilidade para a procura de consensos e compromissos. Há a ideia, da parte de António Costa, que esses consensos só devem ser procurados depois das eleições. Mas eu acho que o país não pode estar um ano suspenso, politicamente, à espera das eleições», sublinha o ministro.
Na sua opinião, o que deveria ser feito «é precisamente ao contrário: devíamos procurar a identificação dos compromissos e consensos antes das eleições, para que elas sejam sobre o que é diferente, sobre a escolha que os portugueses têm de fazer. Portanto, é antes que devemos definir as regras comuns, o que é comum à atual maioria e ao PS. É dessa forma que eu gostaria que a política funcionasse».
Para Poiares Maduro, «as próximas eleições vão oferecer aos portugueses uma escolha muito clara, entre dois modelos de crescimento económico e duas formas de governar: um modelo que criou insustentabilidade, assente em que o crescimento económico é promovido por via da procura interna e do endividamento e que, mais tarde ou mais cedo, conduziu sempre o país a situações de grave desequilíbrio financeiro, resgate e enormes sacrifícios para os portugueses».
Esse é, segundo o ministro, o modelo proposto pelo PS, que, além do mais, assenta «num modo de governar que confunde aquilo que é um Estado forte, com um Governo muito interventivo e presente, que escolhe quem deve ou não ter sucesso na economia e acaba por não ter fronteiras claras entre o poder económico e o poder político».
Do outro lado, segundo a visão de Miguel Poiares Maduro, está a atual maioria do Governo, que apresenta «um modelo económico que nós temos vindo a implementar no país, com base na sustentabilidade e assente nas exportações. Portugal teve, no ano passado, o melhor ano de sempre ao nível das exportações. Mais: vamos ter, pelo terceiro ano consecutivo, um excedente comercial, algo que nunca tínhamos tido em 70 anos. E isso oferece-nos crescimento económico com sustentabilidade».
«É verdade que o crescimento ainda é ténue, não é o que nós queremos, que a queda do desemprego é forte, mas ainda se mantém em níveis elevados, que os portugueses ainda não estão a ver uma recuperação ao nível das suas condições de vida como nós gostaríamos, mas o país estava numa situação difícil. O que nós estamos a procurar fazer é criar condições para recuperar, mas com sustentabilidade».
Mas as diferenças entre PS e PSD não se ficam por aqui, de acordo com o ministro. «A diferença na forma de governar também é clara. Defendemos que deve haver instituições públicas fortes, mas não um Governo que, por exemplo, decide, numa semana, que uma empresa deve ser gerida pelo grupo económico A e não o B. Esse grupo económico A, na semana seguinte, vem pedir ao Governo determinados favores. Esse tipo de promiscuidade não pode existir. E a forma de governar diferente que introduzimos, em que não confundimos o interesse do Estado como do Governo, é muito importante para manter fronteiras claras entre o poder político e o poder económico»», concluiu.
Fotos de: Martyna Mazurek/Sul Informação
Oiça a entrevista na íntegra, esta quarta-feira, às 19h00, na RUA FM (102.7 ou www.rua.pt).