Um grupo de 70 cientistas portugueses exige, em carta aberta, o fim de furos de prospeção e exploração de petróleo e gás na costa e no mar portugueses, do Algarve ao Porto.
«Vimos afirmar que é preciso que cessem, desde já, todos os contratos em vigor e que se recusem novas emissões de licenças, de forma a evitar danos irreparáveis para a economia, o meio ambiente e as suas comunidades», dizem os signatários, provenientes de vários domínios científicos e associados a instituições de todo o país.
Os autores do documento salientam que as comunidades científicas se movimentam a nível internacional e se preparam para manifestações públicas em vários países, incluindo Portugal, contra a exploração de combustíveis fósseis e emissões de gases de efeito de estufa. Um dos exemplos é a Marcha pelo Clima, marcada para sábado próximo, em Aljezur, Lisboa e Porto.
Lembrando os debates sobre alterações climáticas provocados pelas cimeiras sobre o clima e salientando a insuficiência de medidas tomadas até agora e o desrespeito pelas metas acordadas, os cientistas afirmam que há hoje um acordo da maioria da comunidade científica quanto «à urgência de pôr fim às emissões de gases de efeito de estufa».
«O conhecimento já existente permite abandonar os combustíveis fósseis em favor de energias limpas, as inovações nesta área são constantes. As alterações climáticas provocadas por ação humana são um problema da sociedade a que a ciência pode e tem vindo a responder», diz a carta aberta.
No documento, alerta-se também para a reconfiguração da relação entre poderes globais e nacionais após a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a aliança com Vladimir Putin, presidente russo, e a ascensão da extrema-direita na Europa, «o que agrava a situação de forma preocupante».
«Para os povos, as ameaças à paz, à permanência no território, à saúde, à alimentação, à educação aumentam a cada dia. Acresce ainda a insuficiência do investimento científico, em muitos países, o que ameaça o trabalho de cientistas e o isola mais, socialmente, das soluções justas para os grandes problemas que requerem a intervenção das várias ciências», alertam os cientistas.
A exploração de combustíveis fósseis em Portugal é, salientam os signatários da carta aberta, «um dos grandes problemas que temos de enfrentar do ponto de vista da cidadania e das ciências que fazemos».
«Como cientistas sabemos que a persistência de uma economia predadora do carbono inviabiliza os compromissos políticos nacionais assumidos nas Cimeiras do Clima e defrauda as expectativas das populações. Sabemos que destrói os territórios, mares e rios, a atmosfera, formas e cadeias de vida insubstituíveis, aproximando-nos aceleradamente de um ponto de não retorno», acrescentam.
Ora, defendem os cientistas, «com essa exploração, as populações não ganham nem trabalho, nem saúde, nem lugar para viver. E sabemos que há alternativas».
Por isso, concluem, este é «o momento para manifestarmos a nossa oposição, socialmente responsável e com base no melhor conhecimento científico, aos furos de prospeção e exploração de petróleo e gás na costa e no mar portugueses, desde o Algarve até ao Porto».
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