A Central Termoelétrica de Sines, a de maior potência das duas existentes no país, é apontada como uma das mais poluidoras na Europa, pelo relatório “Europe’s Dirty 30”, divulgado hoje pela Rede Europeia de Ação Climática, WWF, European Environmental Bureau (EEB), Health and Environment Alliance (HEAL) e Aliança Climática Alemã.
O relatório, cujas conclusões são divulgadas pela Quercus, revela que as emissões de dióxido de carbono (CO2) das centrais a carvão na União Europeia (UE) estão a destruir os esforços da política climática.
O relatório “Europe’s Dirty 30” revela que muitas das centrais a carvão existentes estão a funcionar em plena capacidade, ou perto, devido ao preço relativamente baixo do carvão em relação ao gás natural. Isto levou a um aumento das emissões de CO2, apesar da rápida expansão das energias renováveis e de uma redução global nas emissões de gases com efeito de estufa na UE.
De acordo com este relatório, o elevado uso do carvão em alguns dos Estados-Membros da União Europeia com as maiores populações, como o Reino Unido e a Alemanha, coloca a UE em grave perigo de não reduzir gradualmente as emissões associadas à combustão do carvão com a rapidez necessária, destruindo as ambições climáticas da UE. A eliminação rápida das emissões de CO2 a partir do carvão tem de se tornar uma prioridade na UE.
A queima do carvão também é responsável por outros poluentes que estão associados a um conjunto de problemas na saúde humana, incluindo asma e cancro. A Organização Mundial de Saúde (OMS) identificou recentemente a poluição do ar como uma causa ambiental de morte por cancro.
O relatório mostra que ainda é possível evitar as alterações climáticas catastróficas, mas, para tal, é necessário um rápido e sustentado corte nas emissões de carbono.
Quanto ao facto de a Central Termoelétrica de Sines ser apontada no relatório como uma das mais poluidoras na Europa, a Quercus tem vindo a alertar para o facto de Portugal, nos últimos anos, ter vindo a aumentar a utilização das centrais a carvão, devido ao preço deste combustível fóssil no mercado internacional, conjugado com o reduzido preço das licenças de emissão de carbono.
Devido a este uso de carvão, «as emissões no setor elétrico não caíram tanto quanto poderiam na sequência do enorme investimento em energias renováveis», sub,linha a associação ambientalista.
A Quercus considera que «Portugal não deve prolongar a vida desta central cujo fim está previsto para o início da próxima década e deve proporcionar um equilíbrio de condições para completar a produção de eletricidade renovável com as centrais de ciclo combinado a gás natural, com melhor desempenho ambiental e que têm estado praticamente paradas».
A CAN Europa reafirma que «as centrais termoelétricas a carvão são a maior fonte global de emissões de gases de efeito estufa. As emissões de CO2 a partir do carvão na UE ainda são muito elevadas, como mostra o relatório‘Europe’sDirty 30’. A UE tem de enfrentar o problema da utilização excessiva do carvão, se quiser cumprir com êxito as suas próprias metas climáticas de longo prazo».
A WWF considera que «o quadro da política da UE em vigor em matéria de clima, energia e poluição do ar que regula o setor de energia não é forte o suficiente para alcançar a transformação necessária no setor, afastando o carvão e promovendo a redução de consumos energéticos e as energias renováveis. O que a UE necessita para acabar com a sua dependência do carvão são três metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, aumentar a eficiência energética e aumentar o recurso a energias renováveis. A reforma estrutural do enfraquecido Comércio Europeu das Licenças de Emissão (ETS, na sigla em inglês), bem como a introdução de uma norma de desempenho em matéria de emissões para as emissões de CO2 do setor de energia também são essenciais, a fim de evitar o bloqueio ao desaparecimento das infraestruturas de energia mais poluente».
O EEB considera que «a dependência de carvão da Europa é nefasta para a saúde das pessoas e para o ambiente e não tem lugar no nosso futuro energético sustentável. Quantidades significativas de emissões poderiam ser evitadas e reduzidas se os operadores se guiassem pelo estado da arte das técnicas disponíveis, em vez de argumentarem por isenções. As normas ambientais das centrais devem, em primeiro servir para proteger as pessoas e o ambiente na Europa e devem ser implementadas com celeridade para o conseguir».
A HEAL considera que «as maiores centrais a carvão na Europa são responsáveis por centenas de milhões de euros em custos de saúde. A enorme quantidade de poluentes libertada, para além das emissões de CO2, contribui para níveis mais elevados de partículas, que é um importante poluente com consequências graves na saúde humana. A reforçar, apenas 30 centrais causam 20 por cento dos custos de saúde do setor de energia europeu. A eliminação de carvão na Europa será uma vitória, porque vai ajudar a conseguir um ar limpo para mais pessoas, e evitar mais danos à saúde devido às alterações climáticas».
Por último, a Aliança Climática Alemã, afirma que «a próxima fase da Energiewende (transição energética alemã) deve concentrar os esforços em como fazer a transição para longe do carvão. Se a Alemanha e a UE têm um compromisso sério com as suas metas climáticas e na transformação do setor de energia, é fundamental a eliminação do carvão das centrais alemãs. O facto de 9 das 30 centrais maiores emissoras de CO2 estarem localizadas na Alemanha, a maioria dos quais a queimar lenhite, é um caso em questão».