Em mais de dez por cento da população, o sol pode provocar reações cutâneas que se podem acompanhar de uma comichão intensa. O dermatologista Rui Tavares Bello, do Hospital Lusíadas Lisboa, revela que “quando não é tratada, esta alergia pode provocar profundo desconforto, mal-estar acentuado e um impacto psicológico negativo”.
“Vivemos num país muito soalheiro e as pessoas gostam e tendem a abusar da exposição solar. O problema é que nem todos podem usufruir do sol sem consequências. Entre as várias doenças da pele que resultam da exposição solar, destacam-se, pela sua prevalência, a Lucite Estival Benigna e a Erupção Solar Polimórfica, duas variantes clínicas de um mesmo processo de alergia ao sol. Ocorrem em mais de dez por cento da população, na sua maioria entre os 15 e os 40 anos e, sobretudo, no género feminino”.
A erupção solar polimórfica manifesta-se através de pequenas bolhas, borbulhas, babas com comichão ou desconforto intensos.
No entanto, o médico revela que “por vezes os seus sintomas são ligeiros sendo subestimados ou ignorados, ocasionalmente interpretados como uma alergia a um creme, perfume ou peça de roupa que surge em zonas mais expostas e consequentemente mais sensíveis, como o peito, ombros, braços, pernas e pés”.
E acrescenta: “sem intervenção médica adequada, a doença pode evoluir e gerar complicações como irritação, escoriações, infeção ou mesmo eczematização”.
“Uma vez instalada, tende a reaparecer nas exposições solares e Verões subsequentes; ano após ano, em graus variáveis, acabando por finalmente se esgotar espontaneamente. Não se deve subestimar a doença nem trivializar o diagnóstico porque se por um lado podemos estar perante uma “simples” alergia solar, por outro, os seus sinais ou sintomas podem ser uma manifestação de outras enfermidades graves, como o lúpus eritematoso, reações adversas a medicamentos ou doenças metabólicas, pelo que deve sempre justificar um esclarecimento e orientação médicos”, esclarece o dermatologista.
Para a prevenir, podem ser usados, em conjunto com os protetores solares e os comportamentos adequados de fotoproteção, suplementos como determinados antioxidantes e medicamentos específicos imunomoduladores, sendo, por vezes, também prescrita a exposição a luzes ultravioletas, sob orientação médica, iniciada cerca de 1-2 meses antes de começar a exposição ao sol.
Quanto ao tratamento, Rui Tavares Bello clarifica que “uma das soluções passa pela aplicação de cremes emolientes e calmantes e corticoides tópicos, sempre após uma avaliação clínica e diagnóstico adequados. Nos anos subsequentes, a pessoa, devidamente instruída, já estará apta para primeiro, prevenir novos episódios e, depois, controlar os sintomas instalados da afeção”.
“Ainda assim, é preciso alertar as pessoas para não aplicarem anti-histamínicos tópicos na pele, pois há possibilidade de absorção sistémica e aparecimento de alergias de contacto, bem como para não aplicarem indiscriminadamente corticoides tópicos, dados os riscos conhecidos do seu uso desregrado”, conclui o especialista.