Cozinhar pode ser uma arte, mas o seu “palco” costuma ficar escondido nas cozinhas, longe dos olhares do público. Esta terça-feira, no auditório do Museu de Portimão, não foi isso que aconteceu. O chef André Magalhães preparou um xarém de camarão “Louisiana” em palco e os cheiros e os sons da cozinha envolveram-se com vídeos recolhidos no Algarve, por Tiago Pereira e Sílvio Rosado, os Sampladélicos.
Trava-línguas, corridinho algarvio ou pragas de Alvor, temperadas com azeite, alhos e um “cheirinho” de medronho da Serra de Monchique. Foi esta a ementa servida ao público nos “Antípodas da Gastronomia”, mais um evento do ciclo “Fazer Render o Peixe em Portimão” que, até Maio do próximo ano, vai juntar Arte e Gastronomia no museu da cidade.
De um lado do palco, Tiago Pereira e Sílvio Rosado “cozinhavam” os sons e as imagens, e, do outro, André Magalhães preparava um «Xarém do outro lado do Atlântico», à moda de do Algarve, que tinha medronho em vez de bourbon e gambas de Quarteira em vez de camarões do Golfo do México.
Os sons dos Sampladélicos encontraram-se com os sons da bancada do chef. O afiar de uma faca, a moagem do milho ou o descascar de alhos numa cataplana também ritmaram a performance, numa simbiose que sugeria que este espetáculo já tem meses de estrada. Mas não é bem assim, conforme explicou Tiago Pereira ao Sul Informação.
«Os Sampladélicos só faziam coisas da música portuguesa. Da “Música Portuguesa a Gostar dela Própria”, nasceu o Esporão e a “Comida Portuguesa a Gostar dela Própria”, que também gravava vídeos de comida. Fez sentido também começar a usar esses vídeos. Já tínhamos esta ideia há muito tempo, de inserirmos um cozinheiro em palco, porque tem montes de sons que acontecem em tempo real: as facas, as panelas a ferver, os alhos e, neste caso, a mó. Todos esses sons são importantes para a performance. Decidimos experimentar e foi a primeira vez que conseguimos fazer isto».
O espetáculo apresentava-se como multissensorial e provou-o. Audição, visão, paladar e… olfato. O aroma deste xarém “Louisiana” acabou por ser um pormaior da atuação.
Para o chef André Magalhães, a experiência foi «divertida». Apesar de não ter rotinas de cozinhar no palco, a adaptação correu bem e não houve distrações, apesar do público ou dos sons. «Quando estou a preparar um prato, estou muito concentrado. O facto de haver aquela “cortina negra” entre o palco e o público, que não permite que o veja, faz com que não seja muito diferente estar ali ou numa bancada de cozinha. Mas, quando cozinho, estou tão concentrado, que podia estar a passar um comboio à frente que não me ia distrair», garante.
Terminada a atuação no auditório, a experiência continuou no restaurante do Museu de Portimão, onde foi servido um Menu Antípodas, em que André Magalhães revisitou e brincou com «algumas referências do receituário algarvio».
Picadinho de carapau “alimado”, xarém de camarão “Louisiana”, jantarinho de chícharos com “pézinhos” e “Babá” de milhos com medronho compuseram a refeição, acompanhada por vinhos selecionados pela Comissão Vitivinícola do Algarve.
Hoje volta a haver “Fazer Render o Peixe em Portimão”, a partir das 18h00. Será inaugurada a instalação escultórica “Europa: Polar Shift”, de João Leonardo, e haverá degustação a cargo da Docapesca, prova de vinho, promovida pela CVA, e prova de azeite Monterosa.
Fotos: Nuno Costa|Sul Informação