A Câmara de Alcoutim voltou a fechar o ano com todas as contas saldadas e até com lucro de mais de 2 milhões de euros. Uma situação que se repete pelo menos há 12 anos e é um exemplo raro entre as em geral fortemente endividadas Câmaras Municipais do país.
O executivo camarário alcoutenejo viu a Prestação de Contas e Relatório de Gestão da Câmara Municipal de Alcoutim aprovados sem votos contra na Assembleia Municipal de Alcoutim na passada semana.
«No ano de 2012, a autarquia de Alcoutim registou um saldo final positivo de 2.168.769,00 euros, o que levou à transição do ano sem dívidas, com todas as faturas liquidadas a credores», anunciou esta semana a autarquia.
E se, visto de fora, o equilíbrio das contas, para mais como prática recorrente, é algo de extraordinário quando comparada com a generalidade das entidades públicas portuguesas, de dentro é encarado com naturalidade.
«Temos de respeitar o dinheiro público. Eu não percebo muito de Finanças, mas sei que só posso gastar o dinheiro que tenho», ilustrou o presidente da Câmara de Alcoutim Francisco Amaral ao Sul Informação. Um mote que é seguido à risca no concelho serrano algarvio, que evita empréstimos sempre que possível, até porque «há que pensar nos alcoutenejos de amanhã».
«Recentemente contraímos um empréstimo para a construção de um lar de idosos em Martinlongo, mas a nossa capacidade de endividamento ainda continua a ser muito grande», revelou o autarca. Uma situação rara, já que o município não recorria à banca «há oito ou nove anos».
Francisco Amaral defende mesmo que «o dinheiro emprestado é dinheiro difícil», pois adia os problemas para o futuro. Bem mais fácil «é fazer obra», mas as coisas complicam-se na hora de definir «quem paga, quando e como».
Em tempo de crise, seria de esperar que Alcoutim tivesse de fazer fortes sacrifícios, para manter as contas em ordem e ainda ter lucro na ordem de dois milhões de euros. Mas, aparentemente, não é assim.
Nas respostas sociais, por exemplo, o concelho serrano alargou as refeições escolares gratuitas a todos os alunos do Ensino Básico, ou seja, dos estudantes que frequentam entre o 1º e o 9º ano em escolas de Alcoutim e atribui, atualmente, bolsas de estudo a 20 universitários, um investimento na ordem dos 20 mil euros.
Algo que se consegue com uma gestão ponderada e responsável e tentando sempre «estender a cama à medida do lençol». «Quando se respeita o dinheiro dos outros, há recursos para aplicar em todas as áreas», referiu Francisco Amaral.
«Este foi um ano difícil, face à situação que o país atravessa, devido à quebra das receitas provenientes do estado e à diminuição de possibilidades de financiamento comunitário», explicou, por seu lado, o vice-presidente da autarquia, José Carlos Pereira, na reunião de assembleia em que as contas foram aprovadas.
Mas, realçou ainda o número dois do executivo alcoutenejo, «o município de Alcoutim não comprometeu o seu futuro, mantendo a sua política de equilíbrio, prudência, rigor e controlo nos gastos, respeitando os alcoutenejos de ontem, de hoje e de amanhã».
Esta é uma situação rara em Portugal, mas não é única no Algarve. São Brás de Alportel é outro concelho que tem sido exemplar a nível nacional no que ao equilíbrio das contas diz respeito e também vem conseguindo de há muitos anos a esta parte fechar as contas anuais sem transitar dívidas.