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Sul Informação

Deputados novos-ricos e água da torneira

A Comissão Parlamentar de Ambiente chumbou na quarta-feira, dia 16 de novembro, uma proposta do PS para ter água da torneira, desde já, nas reuniões parlamentares.

Entretanto, tendo votado contra, o PSD fez aprovar um projeto para estudar os custos e benefícios da medida, no prazo máximo de 30 dias.

A proposta baseava-se no facto de, entre janeiro e novembro de 2010, se terem consumido 35 mil litros de água mineral no Parlamento, ao mesmo tempo que foram para o lixo 45 mil garrafas de 330 ml, 2.000 garrafas de litro e meio e 78 mil copos de plástico…

Por tudo isto, esta decisão de uma Comissão Parlamentar e ainda por cima, de uma Comissão Parlamentar de Ambiente, deixa-me perplexa.

Para já porque, ao recusar a água da torneira, os senhores deputados (da Comissão Parlamentar de Ambiente!) que votaram contra demonstram o tamanho do seu provincianismo e da sua ignorância.

É que, já que tanto gostam de ir copiar «o que se faz lá fora», podiam já ter reparado que lá fora, nos países mais ricos que Portugal, há anos que a água de torneira é a única presente em cima das mesas de reuniões, conferências, debates. Num jarro, com copos de vidro ao lado, lá está a água da torneira.

Ainda há dois anos, quando estive em Copenhaga (Dinamarca), pouco antes do arranque da COP15, em todas as cerimónias públicas, entrevistas, conferências e visitas em que participei enquanto jornalista lá estava o omnipresente jarro com água da torneira. E toda a gente a bebia.

Mas não é só provincianismo que a rejeição desta medida demonstra: é também ignorância. É que Portugal – e nisso o Algarve é pioneiro – tem das melhores águas de abastecimento público da Europa e a de Lisboa é considerada de alta qualidade. Por isso, beber água da torneira é completamente seguro para qualquer lisboeta, mesmo que seja deputado.

Depois há a questão do exemplo e dos custos. Segundo o jornalista Ricardo Garcia, do Público, a Assembleia da República terá gasto 8.000 euros com a água engarrafada no ano passado, quando a da torneira custaria 56 euros.

Num tempo em que os portugueses só ouvem falar (e sentem na pele!) de cortes, de contenção de despesas, da necessidade de poupar, teria ficado muito bem aos senhores deputados ter votado a favor da proposta.

Uma poupança de 7.944 euros pode parecer uma gota de água para esses senhores deputados, mas é com estas pequenas poupanças, e, sobretudo, com a mudança de hábitos e de comportamentos, que poderemos chegar a algum lado!

Nos tempos que correm, quanto mais não fosse para dar o exemplo, os senhores deputados deveriam ter votado – todos! – a favor da proposta e alargá-la mesmo a toda a água consumida na Assembleia da República.

E, como também diz Ricardo Garcia, quem não quiser beber água da torneira, que pague as garrafas de água do seu bolso. Certamente que os senhores deputados têm dinheiro para isso!

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